O invasor
Nos anos 90, o americano Kevin Mitnick detonou sistemas secretos e foi perseguido até pelo FBI
1. A trajetória do maior hacker do mundo começou no final dos anos 70. Mitnick era um adolescente, mas já usava computador e modem para bagunçar a telefonia de Los Angeles. Uma de suas brincadeiras clássicas era invadir o serviço de auxílio ao assinante e transferir todas as chamadas para sua casa. Ele atendia às dúvidas com mensagens do tipo: “O número pedido é 555-835 e meio. A senhora sabe teclar ‘meio’?”
2. Antes de hackear as máquinas das centrais telefônicas de Los Angeles, Mitnick precisava de senhas e manuais para preparar a invasão. Ele conseguia tudo isso na base da conversa, telefonando para as companhias e se fazendo passar por funcionário. Mas aos 17 anos, ele exagerou e tentou roubar pessoalmente alguns manuais de uma das empresas. Pouco depois, foi rastreado e passou três meses num reformatório
3. A prisão só serviu para atiçar Mitnick. Livre da cadeia, ele passou a invadir sistemas secretos como a Arpanet, rede de troca de informações militares que daria origem à internet, e computadores do Pentágono. Acabou pego com a mão na massa em 1983, nas máquinas de um campus universitário. E foi para trás das grades de novo, ficando seis meses numa prisão juvenil
4. Após a segunda detenção, ele se tornou ainda mais agressivo. Entre 1987 e 1989, roubou programas de laboratórios e empresas da Califórnia. Para desnortear o FBI, que o rastreava, usava dois computadores: um para as invasões e outro para embaralhar linhas telefônicas que levassem até ele. Delatado por um amigo, pegou um ano de prisão. Três anos depois, foi acusado de hackear computadores em plena condicional e passou a viver foragido
5. Em 1994, ainda clandestino, Kevin tentou roubar programas de Tsutomu Shimomura, um especialista em segurança eletrônica. Para se manter oculto, o hacker usava linhas clonadas de telefone celular. Um rastreamento telefônico sugeriu que Kevin estivesse escondido na Carolina do Norte, do outro lado do país. Munido de laptop e uma antena capaz de rastrear o sistema celular, Tsutomu foi até lá para desmascarar o invasor
6. No primeiro dia da perseguição, Tsutomu encontrou a antena de celular de onde partiam os ataques de Kevin e chamou o FBI. Numa conversa com o síndico de um prédio próximo, os agentes deduziram qual era o apartamento de Mitnick e o prenderam. Ele ficou mais cinco anos na prisão. A cobertura do caso rendeu livros e inúmeras reportagens
7. Solto em 2000, Kevin foi proibido de usar a internet até 21 janeiro de 2003. Hoje, aos 40 anos, é dono de uma empresa que ensina outras companhias a evitar ataques, a Defensive Thinking. Para completar a renda, cobra milhares de dólares para dar palestras no mundo todo e é tratado como pop star onde quer que apareça. Nada mau para um ex-presidiário