O professor Pedro Rezende, da UnB, foi um dos palestrantes do seminário A urna eletrônica é confiável?, realizado no Rio de Janeiro.
Na última segunda-feira 10, o auditório da Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro, ficou lotado para assistir ao seminário A urna eletrônica é confiável?
O ponto alto foi o relato de um jovem hacker de 19 anos, que revelou fraudes em resultados na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, na última eleição, em outubro de 2012. Identificado apenas como Rangel por questões de segurança, ele mostrou como — através de acesso ilegal e privilegiado à intranet da Justiça Eleitoral no Rio de Janeiro — modificou resultados, beneficiando candidatos em detrimento de outros, sem nada ser oficialmente detectado.
O Viomundo reproduziu, aqui, a denúncia publicada no portal do PDT, um dos promotores do seminário:
“A gente entra na rede da Justiça Eleitoral quando os resultados estão sendo transmitidos para a totalização e depois que 50% dos dados já foram transmitidos, atuamos. Modificamos resultados mesmo quando a totalização está prestes a ser fechada”, explicou Rangel, ao detalhar em linhas gerais como atuava para fraudar resultados.
A platéia, composta principalmente por especialistas em transmissão de dados, computação, internet, representantes de partidos políticos e autoridades policiais, ficou pasma.
Entre eles, o matemático e professor de Ciência da Computação Pedro Antônio Dourado de Rezende, da Universidade de Brasília (UnB). Foi um dos palestrantes do seminário. Há mais de dez anos ele que estuda as fragilidades do voto eletrônico no Brasil.
Viomundo – O senhor acompanhou o relato do Rangel?
Pedro Rezende – Sim, integralmente.
Viomundo — O que achou da fraude relatada?
Pedro Rezende — Plausível, reveladora de muitos detalhes da fase de totalização, e muito séria. Pois é nessa fase do processo de votação que fraudes podem ocorrer de forma definitiva. Ao mesmo tempo, curiosamente, essa fase é sempre omitida nas avaliações externas e testes públicos de segurança, alardeados como garantias de lisura do processo de votação.
A Justiça Eleitoral sempre restringiu os testes e avaliações à urna eletrônica. E quando questionada sobre a segurança do processo de votação como um todo, ela desconversa. Sempre confunde o entendimento da questão com o da urna simplesmente.
Viomundo — O que o Rangel expôs é mesmo factível na prática?
Pedro Rezende — Sim, por motivos sobre os quais escreverei mais detalhadamente quando for publicado o vídeo do seminário. Por hora, em consideração à seriedade com que o Viomundo vem tratando a segurança do eleitor que quer eleições limpas no processo eleitoral, posso adiantar o seguinte.
A fraude descrita no seminário não tem nada a ver com a questão do TSE utilizar ou não criptografia no processo, ou se a utiliza bem ou mal.
A criptografia opera apenas em canais de comunicação, no tempo ou no espaço. No caso em questão, nos canais entre o gateway de saída de um ponto de coleta de Boletins de Urna (BU) eletrônicos, no cartório eleitoral que os recebe de seções eleitorais, e o gateway da rede interna do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), onde se inicia o processamento da totalização.
A modalidade de fraude que o jovem Rangel descreveu no seminário ocorre dentro da rede interna do TRE que totaliza a eleição, na etapa final da fase de totalização, através de um backdoor no firewall que protegeria o correspondente gateway.
A fraude é executada alterando-se as tabelas de totais parciais. Portanto, após os BUs eletrônicos terem sido descriptografados (decifrados) e os números de votos por candidato para a seção eleitoral correspondente terem sido lidos do resultado desta decifragem e tabulados em uma planilha de totais parciais da eleição. Consequentemente, após o uso da criptografia.
Essa modalidade de fraude não depende de ataque à criptografia utilizada, pois nela o ataque é no canal de confiança capaz de dar utilidade à forma de criptografia empregada na transmissão de BUs. Em linguagem técnica, podemos dizer que se trata de um ataque de canal lateral.
(…)”
fonte: http://www.viomundo.com.br/denuncias/professor-acompanhou-relato-de-hacker-fraude-plausivel-muito-seria.html